Ouvindo: Hearts That Strain, do Jake Bugg

20 de abril de 2018 em Música

Conheci o som do Jake Bugg mais ou menos em 2014, pouco depois que ele lançou o Shangri-La. Achei bacana, gostei da voz peculiar e da pegada mais acústica. Confesso que achei (e acho) as impressões da crítica por aí sobre os dois primeiros bastante exageradas, mas existem boas joias escondidas por ali. O fato é que depois disso acabei me esquecendo de que ele existe e me ocupei ouvindo outras coisas.

Dia desses enquanto eu procurava bons fones que eu jamais comprarei na Amazon, me apaixonei pelo Sennheiser HD598 Ivory (infelizmente não é uma propaganda nem um link de afiliado e eu não vou ganhar um centavo pelo seu clique) e mandei pra um amigo que prontamente me respondeu “pô, é o que o Jake Bugg usa nesse clipe, né?”. O clipe em questão é How Soon The Dawn:

Eu não sei se o fone é o que ele usa e o clipe é bem enjoado (parece um vídeo feito para a nova temporada do programa de colírios da capricho), mas a música me pegou na primeira audição. Tratei de procurar o álbum de que ela saiu e foi assim que descobri o Hearts That Strain, que ele lançou em 2017, também conhecido como ano passado.

A grande parte das análises que li por aí do disco reclamam do fato dele ser “morno” demais, que tocam todas as músicas e você acaba nem percebendo. Talvez seja verdade — e talvez seja isso também que me fez gostar dele. O álbum tem uma atmosfera e calmaria típica dos anos 70/80 que muito me agrada. Algo parecido, dadas as devidas proporções, com o que sinto ouvindo o Tracker, do Mark Knopfler. Desses que dão vontade de pegar a estrada com tranquilidade, curtindo a paisagem ao som de violões e voz tal qual faria um casal numa estrada sinuosa no meio do mato em algum filme de qualidade duvidosa.

A sétima faixa, que dá nome ao álbum (ou será que o álbum dá nome a essa canção? jamais saberemos), tem uma sonoridade um pouco diferente do resto. Vem à tona uma atmosfera — que eu adoraria que fosse mais explorada — um pouco mais obscura e cheia de acordes menores, ganhando e perdendo camadas à medida que o fim se aproxima. Me lembra um pouco o que o Eddie Vedder fez para Into The Wild com Long Nights ou com o som maravilhoso que o The Handsome Family sempre faz (embora geralmente com um pouco de overdrive). O folk otimista e animadinho volta logo na próxima da sequência, Burn Alone.

Talvez seja a ovação exagerada do passado que tenha exaltado tanto as expectativas que surgem toda vez que Bugg lança alguma coisa e acabam resultando em críticas duras sobre uma suposta falta de “inovação” e de grandes momentos que não precisam, necessariamente, existir. Não é uma obra prima, mas é o que tem tocado por aqui nos últimos dias sem pular nenhuma música (apesar de Waiting, esse dueto com uma mina que não sei quem é, ser meio chata). Tem seu mérito — e falo aqui como um enorme defensor do bom o suficiente. Talvez seja de alguma forma um esforço de auto-preservação meu.

Ouça: How Soon The Dawn, Southern Rain, Hearts That Strain

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